sexta-feira, 29 de abril de 2011

A livraria que vende um livro só

À primeira vista, ela parece uma encantadora livraria independente, uma gema de West Village com uma vitrine exibindo belas pilhas de livros de capa dura reluzentes.

Mas, espere aí. É apenas um livro? Muitas e muitas cópias do mesmo livro?

Variedade não é o forte da Ed’s Martian Book, na Hudson Street, onde você não pode comprar “Água para Elefantes” ou algo de Mary Higgins Clark, mas você pode encontrar aproximadamente 3 mil cópias de “Martian Summer: Robot Arms, Cowboy Spacemen, and My 90 Days With the Phoenix Mars Mission” (Pegasus, 2011), de Andrew Kessler, um escritor de 32 anos do Brooklyn, por US$ 27,95 cada.

O livro é o relato de Kessler da missão Phoenix Mars Lander de 2008, contada durante 90 dias dentro do controle da missão, em Tucson, Arizona. A “Publishers Weekly” chama o livro de “um relato pessoal levemente incomum de determinação científica e teimosia intelectual” que “fornece uma jornada fascinante de descoberta temperada com humor”.

A loja é parte jogada de marketing, com certeza (Kessler é um diretor de criação de uma agência de publicidade), mas também parte meditação sobre o significado do livro em uma era de leitores eletrônicos e falência da rede de livrarias Borders.

“Isso faz os livros parecerem uma instalação de arte”, ele disse. “Nós devíamos nos importar com eles.”

Kessler diz que se inspirou em restaurantes especializados em um só prato, como o Meatball Shop, no Lower East Side. “Eu pensei em pessoas que vendem apenas uma coisa muito bem”, ele disse. As religiões, ele raciocinou, se ocupam com um único livro. Por que não uma livraria? Ele chama a si mesmo de Monolivreiro.

Ele não é o primeiro: Walter Swan, um gesseiro que virou escritor, abriu a One Book Bookstore em Bisbee, Arizona, após publicar de forma independente uma compilação de histórias sobre sua vida que as editoras rejeitaram. Kessler pareceu encantado ao saber de Swan, que morreu em 1994.

A Ed’s inspirou algumas respostas significativas desde que Kessler abriu a loja em 12 de abril.

“As pessoas realmente se projetam na loja, quando se sentem realmente felizes ou furiosas ou perguntam como você consegue pagar suas contas”, ele disse. “Às vezes é bastante intenso.”

Um homem entrou pisando duro, lembrou Kessler, aparentemente arrastado contra sua vontade. “O que estou fazendo aqui?” ele reclamou.

Após várias perguntas, Kessler colocou uma lousa com um aviso do lado de fora da loja, dizendo: “Nós só temos um livro, mas não somos da Cientologia”.

Na noite de terça-feira, Paula Faber entrou na livraria e perguntou a Kessler: “Você perguntou a eles como permanecem no mercado vendendo um só livro?”

“É meio que um novo modelo de negócios”, respondeu Kessler, enigmaticamente.

Faber não comprou o livro –“não somos grandes fãs de marcianos”– mas decidiu pesquisar sobre a loja online.

Em seguida veio Wendy Hamilton, 62 anos, uma enfermeira aposentada com “Chega de guerra!” pintado com spray em letras cor-de-rosa na traseira de sua jaqueta jeans.

“Que ideia excelente”, disse Hamilton, que já tinha comprado o livro e queria dizer a Kessler quanto gostou dele.

Christopher Schelling, um agente literário de 48 anos, e David Rakoff, um escritor de 46, entraram enquanto estavam a caminho de um jantar, se maravilhando com as placas indicando “best sellers” e itens em “liquidação”. (Todos, é claro, eram os mesmos.)

Ambos partiram com “amostras grátis” –cartões impressos com o primeiro parágrafo do livro– e Kessler disse que Rakoff voltou mais tarde para comprar o livro.

A maioria dos escritores considera “frustrante nunca ver seu livro em uma livraria”, disse Rakoff, acrescentando: “Lembra de quando todo o espaço era dedicado a ‘Uma Vida Interrompida’?”

“Você entrava na Barnes & Noble e eles tinham uma vitrine assim de ‘Uma Vida Interrompida’”, disse Schelling rindo, apontando para a vitrine de Kessler.

Kessler, o beneficiário de um senhorio apoiador (sua editora lhe vendeu os 3 mil exemplares com desconto), disse que a loja provavelmente fechará em meados de maio. Ele acha que vendeu aproximadamente “umas duas centenas” de livros, mas não sabe ao certo.

“Eu não tenho ideia”, ele disse. “Eu não sou um homem de negócios muito bom."

Tradução: George El Khouri Andolfato