domingo, 10 de janeiro de 2010

Design cultural

Ronaldo Lemos - ronaldolemos09@gmail.com

Há alguns dias, assisti a um documentário intrigante. O nome é "Objectified" (algo como "objetificado"). O filme fala do papel do design no mundo de hoje.
Mostra desde aqueles palitos de dente japoneses (em que você quebra a pontinha de cima para mostrar que ele foi usado, ao mesmo tempo em que isso cria um minidescanso de mesa para o próprio palito) até a necessidade de o design se tornar cada vez mais sustentável. É claro que, no meio de tudo isso, há os elogios tradicionais ao design da Apple, que ninguém aguenta mais.
Mas o que mais me chamou a atenção foi uma entrevista com o designer egípcio Karim Rashid (que foi objeto de exposições recentes no Brasil).
Ele reclama que o formato das câmeras fotográficas ainda é retangular. E lembra que elas precisavam ser assim por causa do filme, que também tinha esse formato. Como tudo hoje é digital e não há mais filme, as câmeras poderiam assumir qualquer forma. Mas, ainda assim, grande parte delas ainda é feita no formato tradicional.
O problema desse comentário, certamente provocador, é que ele ignora uma questão crucial: a dimensão cultural do design. Afinal, em geral todo o mundo identifica uma câmera fotográfica como sendo retangular. Enquanto essa percepção cultural for compartilhada, mesmo que não haja razão técnica para ser assim, ainda vai fazer sentido desenhar câmeras com esse formato.
A mesma reflexão pode ser usada para a questão do formato "álbum" de música, ou do gênero "romance" em livro. Apesar de o álbum (de 45 a 70 minutos e cerca de 12 músicas) ter surgido muito por conta do tamanho dos LPs ou CDs, isso certamente produziu um impacto cultural. O mesmo ocorre com o romance, um gênero perfeito para o formato usual de um livro em papel.
Assim, mesmo que livros e CDs estejam mudando ou desaparecendo, os gêneros culturais surgidos por conta deles continuam tendo sentido. Não digo que vão continuar sendo centrais nem que vão durar para sempre. Mas vão permanecer enquanto as pessoas compartilharem a ideia e o valor do que eles significam.